Às vezes da vontade de voltar a ser criança, poder brincar sem se preocupar com os compromissos, poder ir à casa dos amigos sem ter que marcar horário. Que saudade da família reunida na casa dos meus avôs, do quintal de terra e do balanço de madeira!
Ah! Como era mais fácil ser feliz na infância dos anos 80 e 90! Naquela época não existia celular, éramos acostumados a escrever bilhetes, cartas ou usar o famoso orelhão quando precisávamos conversar com alguém distante. Nos anos 80 bastavam apenas algumas fichas. Já nos anos 90 os “modernos” cartões telefônicos resolviam o problema e ainda se tornavam parte de uma coleção.
As pesquisas escolares eram feitas na Barsa e não no Google. Ir a biblioteca era uma prazerosa distração. Os trabalhos escolares frutos das pesquisas eram feitos a mão no papel almaço e as capas em folha de sulfite. Alguns dos livros mais procurados eram da série Vaga-lume. As turmas de amigos pareciam que eram mais unidas. As brincadeiras e apelidos aparentavam não ocasionar tanta ira e intrigas como hoje. Na escola existia o gordo, a magrela, o Zé lingüiça, o quatro “zoio” e a Olivia palito. Todo mundo era “homenageado”, porém brigas e inimizades eram raras, e se rolasse alguma confusão, logo tudo era resolvido e a amizade continuava. Quantas atitudes e comportamentos diferentes de hoje, onde as crianças já se posicionam até com ideologias de partidos políticos e “cancelam” os amiguinhos que não pensam da mesma forma.
A vida escolar há três décadas era muito diferente. A merenda quase sempre era sopa de macarrão com legumes, e nas datas comemorativas como Dia das Crianças ou Páscoa, era leite com achocolatado, pão com carne moída, canjica ou biscoito Mabel. O hino nacional era cantado todas as segundas-feiras. Ir a pé para a escola era uma festa, conforme a turma passava na frente da casa de um amigo, gritavam o nome no portão para irem juntos, e assim, iam arrebanhando durante todo o percurso. A volta para casa era uma diversão, todos a pé comentando sobre os acontecimentos do dia. Quando tinha aniversariante entre os membros da turma, sempre existia um engraçadinho que levava ovo ou farinha para “tacar” no homenageado, era uma maneira de celebrar a data. Ir de tênis novo para a escola era certeza de ter o mesmo “batizado”, quando de surpresa um amigo pisava no pé do colega para comemorar o calçado novo. Quantas travessuras, pureza e aprendizados que criaram memórias de um tempo que não volta mais.
Lembrar dessa época dá uma nostalgia enorme, pois socializávamos mais entre as pessoas. Brincar na rua em frente de casa era muito melhor que ficar olhando para a tela do computador ou celular. Não precisávamos de iPhone para ter as melhores distrações, bastava um graveto para riscar o chão e pular amarelinha, uma corda ou elástico já se transformava em mais duas brincadeiras. Uma folha de caderno e um lápis davam origem ao jogo que eu mais gostava, conhecido como “stop”. Ah! Como era divertido inventar os critérios (nome de carro, fruta, novela, ator, cantor, cidade). As letras menos usuais eram as mais temidas. Trocar birola ou bolita era ostentação. Bater figurinha era muito mais divertido do que bater em colegas como vemos hoje.
Precisávamos de tão pouco para sermos felizes. Nossa netflix era a sessão da tarde. O vídeo game tinha a relevância de um computador e nos divertia muito mais. Pedir a benção aos pais e avós antes de dormir era mais significativo que ter um cartão de crédito. Hoje me pergunto, quando foi que tudo mudou? Quando foi que os valores se perderam? Ah! Quanta saudade, quantas riquezas que para essa geração não valem nada.
Casimiro de Abreu, um dos maiores poetas brasileiros, uma vez disse: “Oh! Que saudades que tenho da aurora da minha vida, da minha infância querida que os anos não trazem mais”! Se naquela época ele notava diferença, imagine se estivesse por aqui, nesse mundo contemporâneo, onde muitos valores não existem mais!
Até a próxima!
Wantuyr Tartari