Era uma vez, quatro plebeias que se conheceram sendo serviçais do reino de Kiddah. Por muitos anos elas trabalharam juntas, e faziam questão de demonstrar para a rainha que estavam constantemente insatisfeitas. Entre as quatro plebeias, havia uma que liderava e manipulava as outras três, seu nome era Lachesis. Para muitos a “líder” do quarteto tentava vender uma imagem de boa moça e ingênua, mas na verdade esse perfil fazia parte da mente maquiavélica da plebeia para conquistar as pessoas e influenciar da maneira que desejava.
Nos corredores do anexo ao castelo, Lachesis não podia encontrar com outros serviçais, que imediatamente parava para conversar e em cada parada levava uma informação diferente, criando vários atritos entre as equipes e até mesmo entre os nobres. Lachesis não era nada confiável, além de ser limitada no que fazia. As outras três a seguiam como discípulas, mesmo sem entender muito bem o que a “líder” disseminava, elas repetiam e obedeciam alastrando a informação.
Certa vez, devido à ausência de uma serva que atuava cuidando dos filhos dos nobres, um dos conselheiros da rainha necessitou realizar um remanejamento entre os serviçais para que as atribuições diárias fossem cumpridas sem prejuízo ao reino, a serva escolhida para a substituição era a mais idosa das quatro, conhecida como Seni. A princípio a serva aceitou entendendo que seria por um breve espaço de tempo, porém Lachesis a convenceu se rebelar contra a determinação. A balbúrdia foi tão grande que conseguiram acionar alguns conselheiros com o intuito que os mesmos interviessem em sua defesa. Já as outras duas, que eram pouco expressivas não interferiram muito, uma delas preferia ficar fumando seu cachimbo nos minutos de ócio do que gastar o tempo com outros comportamentos. A quarta componente do grupo, que era conhecida pela rabugice e oposição a corte, tentou contaminar ainda mais a rebeldia de Seni, mas sua influência não conseguia ser tão dominante e maquiavélica como a de Lachesis, que a cada oportunidade semeava discórdia por onde passava.
A rainha sabendo dos acontecimentos determinou que as quatro servas começassem a apresentar um relatório semanal sobre os trabalhos desenvolvidos, para dessa maneira, comprovar o que um dos conselheiros havia dito referente à falta de comprometimento do quarteto que estava numa zona de conforto há muitos anos e que não aceitavam nenhuma mudança. Até que um velho sábio apareceu em um momento que as quatro servas estavam juntas e perguntou: “Vocês tem medo de mudança? Então ouçam o que irei dizer, imaginem uma lagarta que passa grande parte da vida rastejando-se, indignada com o seu destino e a sua forma. A lagarta passa horas olhando os pássaros sonhando um dia voar. Entretanto, a natureza pede-lhe que faça um casulo. A lagarta sempre pessimista prepara-se então para morrer. Trancada em seu alvéolo, aguarda o derradeiro suspiro, pois acredita ser a lei da natureza. Porém, após alguns dias, vê-se transformada. Podendo voar e ser admirada”. Dizendo isso, o velho sábio desapareceu misteriosamente.
Com exceção de Lachesis, as outras três começaram a refletir as palavras do sábio, e perceberam que as mudanças, por mais que pareçam desafiadoras no início, realmente fazem bem, quando se está aberto(a) à experimentá-las verdadeiramente. Já Lachesis não se permitiu refletir e continuou a disseminar intrigas pelo reino. Assim como os demais que tentaram desestruturar a harmonia no império, Lachesis devido sua rebeldia e perversidades, foi enviada para a masmorra para refletir sobre suas atitudes.
Antes de trancarem Lachesis no calabouço, a rainha fez questão de olhar nos olhos da serva e repetir uma frase de Antoine de Saint-Exupéry, dizendo: “Tenho o direito de exigir obediência, porque as minhas ordens são sensatas”. Em seguida a rainha se retirou e retornou ao seu trono para continuar pregando a harmonia no reino.
Até a próxima!
Wantuyr Tartari