Rosângela Thomaz explica que diversos fatores contribuíram para que o trâmite do projeto, desde sua proposição até o momento da assinatura, levasse mais de uma década. Entre eles, as periódicas mudanças na administração municipal, e a própria localização do sítio arqueológico, que se denomina Lagoa São Paulo 02. “O sítio está localizado em uma fazenda, que é uma área particular. Primeiro, era preciso que ocorresse a doação da área à prefeitura para permitir direcionar à municipalidade a verba para a construção do museu”, diz ela. A mais recente rodada de escavações ocorreu em 2017, e já tinha como objetivo preparar a área para o início da construção do MAHOP.
Novo conceito une tecnologia e ciência realNo diálogo com a prefeitura, as docentes ressaltaram que, juntamente com o seu valor científico e cultural, a nova instituição poderia contribuir para fomentar o turismo na cidade, e também proporcionar uma nova forma de ver e estudar arqueologia aos estudantes da Unesp. Este novo formato, aliás, é um dos principais atrativos do novo museu.
Como se situa em um sítio arqueológico de 600mX200m, os visitantes terão a experiência de conhecer escavações reais, e observar as peças no local onde foram originalmente encontradas. Um guia profissional irá explicar as etapas da escavação, e também o trabalho que os pesquisadores realizam depois que ocorre o descobrimento dos materiais. A exposição a céu aberto também beneficiará a conservação das peças, que estarão livres de eventuais danos causados pelo processo de retirada Dentre as 11 mil peças selecionadas para o acervo do novo museu estão incluídas urnas funerárias, cerâmicas, conchas, pedras lascadas e polidas, ferramentas e vasilhas. Rosângela Thomaz diz que a inspiração veio de museus históricos da Europa, e também do Museu a Céu Aberto do Centro Histórico Santo Ângelo, no Rio Grande do Sul.
Projeto mostra o prédio e as escavações que poderão ser visitadas
Além de uma exibição fixa e exposições temporárias, a nova instituição irá abrigar também um centro de pesquisas nas áreas geoambientais. A ideia é que este centro atraia a colaboração de pesquisadores de diferentes formações, em especial nas áreas de engenharia ambiental, geologia e as ciências ambientais. O museu também deverá ser empregado por alunos do curso de Geografia da Unesp de Presidente Prudente para fins de estágio, monitoria e atendimento, e também pelos alunos do campus de Rosana matriculados no curso de Turismo.
Detalhe da entrada e de área interna do MAHOP
“Hoje, um museu não se limita a exercer apenas aquele papel de guardião de um acervo que as pessoas visitam, olham e vão embora”, diz Jean Cabrera. “Agora, é um espaço dinâmico, sempre em transformação, aberto ao diálogo. Queremos que os visitantes possam se identificar com o material exposto e entendam sua relação com a origem do nosso país”, explica. “O propósito é construir um espaço interativo”, diz Rosângela Thomaz. Ela diz que o projeto prevê recursos como um piso translúcido, que permitirá às pessoas visualizarem o solo abaixo enquanto caminham, e obtêm informações sobre as peças em exibição por meio de dispositivos tecnológicos. Cabrera fala da possibilidade de instalações de impressoras 3D, que permitam a impressão de cópias de artefatos do museu, que podem ser comercializados como lembranças. E o aspecto da acessibilidade também está contemplado desde a concepção da planta da construção. O espaço contará com tecnologias que vão auxiliar e estimular os visitantes PCD durante a excursão, como placas com textos em braile, que permitirão às pessoas com deficiência visual identificarem corretamente os materiais expostos.
Presença humana remonta a 7.000 anosA arqueóloga Neide Barrocá Faccio, docente da FCT, que vem conduzindo escavações na região desde os anos 1990, explica que os primeiros indícios de presença humana na área do sítio datam por volta de 7000 anos atrás. Os ocupantes pertenciam à chamada tradição Umbu, e deixaram fragmentos de objetos de pedra lascada, condizentes com uma cultura que adotava um estilo de vida nômade, vivendo de caça e coleta. Posteriormente, o sítio foi ocupado por populações Guarani. Entre os objetos produzidos por este grupo que foram recuperados estão os enfeites labiais chamados de tembetás, as lâminas de machado, facas, furadores e raspadores também são encontrados nos sítios Guaranis.
Neide, que é curadora do
Museu de Arqueologia Regional (MAR) e do
Centro de Museologia, Antropologia e Arqueologia (CEMAARQ), diz que o novo museu irá se somar aos dois já em funcionamento para contar a história da ocupação da região. Atualmente, cada instituição abriga um acervo com características próprias. No MAR estão abrigadas peças dos grupos guarani, Kaingang e Kayapó do Planalto Ocidental Paulista. O CEMAARQ reúne material produzidp por grupos guarani e materiais etnográficos dos indígenas do Brasil.
Jean Cabrera diz que o sítio Lagoa São Paulo 02 é vasto, e novas peças seguem sendo encontradas. “A construção do museu também vai servir para proteger a área. Dessa forma, podemos assegurar a que pesquisa irá prosseguir”,diz.