Certo dia, recebi uma mensagem de alguém que fez parte da minha vida escolar durante a infância. A mensagem é parte de um ditado chinês e dizia mais ou menos assim: “Não volte para onde um dia você foi feliz, é uma armadilha da melancolia, tudo terá mudado e nada será igual, nem mesmo você. Não tente procurar as mesmas paisagens, nem as mesmas pessoas, elas não estarão, o tempo joga sujo, e terá se encarregado de destruir tudo o que um dia te fez feliz. Não volte para o lugar onde um dia você foi feliz, mantenha-o sempre na sua memória, como era, mas não volte. Não volte ao passado, você já o conhece, a vida continua e há novos caminhos para percorrer, novos lugares para visitar e outras pessoas que nos esperam”.
Nunca havia lido um texto que expressasse com tanta veemência a experiência de ter retornado a minha terra natal. Após vinte e três anos longe da cidade que nasci, resolvi retornar. Na verdade sempre desejei esse reencontro com a minha essência, mas em nenhum momento refleti sobre o que encontraria no regresso. Um lugar totalmente diferente, sem algumas das pessoas que deixei, aliás, muitos já haviam partido para outro plano espiritual, outros mudaram de cidade, e entre os poucos que ali permaneciam, já não existia a mesma conexão do passado com alguns.
Aprendi durante os vinte e cinco meses que estive de regresso na minha terra querida, que os vinte e três anos de ausência foram cruciais para mudar coisas de lugar e caráter de pessoas. Encontrei uma cidade muito mais movimentada, mas pouco evoluída no que diz respeito a valores, sentimentos e amor ao próximo.
Presenciei muita maldade humana, inveja e mesquinharia de pessoas teoricamente “cultas” e outras que se dizem “humildes”. Vale lembrar que humildade nem sempre quer dizer simplicidade. Uma pessoa simples, pode sim ser arrogante e maquiavélica.
Conheci pessoas que gastam o precioso tempo inventando mentiras e causando intrigas. Me conectei e reencontrei com pessoas que após conviver descobri que não eram como imaginei.
A paisagem da cidade estava muito modificada, a rua que guardava as lembranças das brincadeiras da infância não era mais a mesma. E a casa que foi o cenário de quatro gerações da minha família, não existia mais.
Visitei por umas três vezes a escola que estudei por quase dez anos, e encontrei um lugar frio, faltando o aconchego que preservei na memória dos tempos de outrora.
Hoje compreendo melhor quando alguém diz que prefere não voltar a determinado lugar onde foi feliz, para não ter as lembranças alteradas. Às vezes é melhor sentir a nostalgia da saudade do que o choque da realidade da transformação que pode anular as lembranças de tudo que um dia nos fez feliz.
Del Lima tinha razão quando disse: “Nunca volte para um momento em que você foi muito feliz, isso vale para lugares, coisas e principalmente pessoas”.
Acredito que é melhor guardar as boas recordações na memória ou construir novas, do que procurar por pessoas e paisagens que nos marcaram e que não estão mais no lugar.
Até a próxima!
Wantuyr Tartari