Autodidata Celda Lima Lobo faz com papel e caneta trabalho delicado e admirável
Quando Celda Lima Lobo começou a pintar aos quatro anos de idade a única que pôde ver seus desenhos foi sua mãe. “Fiz um desenho e mostrei para a única pessoa em quem confiava. Ela me disse pra guardar para que um dia eu me tornasse artista. Rasguei, por que tinha vergonha dos meus desenhos”, disse.
Na época que estudava na escola Estadual Antonio de Carvalho Leitão escondeu seus desenhos até dos professores de artes. Celda conta que tinha que ficava angustiada por não expressar seu talento. Agora aos 58 anos recebe profissionais da área que admiram seus trabalhos e a definem como autodidata.
Casas, árvores, moças com vestido de época aparecem na maioria de seus desenhos. Celda se inspira nas memórias e sonhos de infância, a casa no sitio de sua avó que contava como eram suas roupas nos anos 30 e mais recentemente em seu pai. A ponte Helio Serejo aparece como homenagem, pois ele trabalhou na construção.
Seu pai faleceu sem saber de seu talento. “Mesmo desenhando desde pequena queria ser psicóloga. Queria entender o funcionamento da mente humana”. Ela é professora de psicologia, especializada na área de psicossomática e psicologia hospitalar.
Na época da faculdade, não parou de desenhar, mas só mostrou seu talento quando fez caricaturas de médicos do hospital. “Trabalhava com contabilidade para pagar a faculdade. Tinha muita saudade do cheiro de terra molhada, sempre voltava para o interior nas férias”.
Criada em família evangélica ela atribui sua aptidão artística a Deus. “Desenhava para presentear amigos. Sempre gostei de assistir entrevistas de pessoas que tiveram grandes ideias, queria que Deus me desse uma ideia inovadora relacionada ao meu dom. Em um sonho, o que hoje são marca páginas de livro, apareceram em forma de leque”.
Da ideia de marcadores de pagina veio a sugestão para pintar quadros maiores. Seus desenhos feitos a lápis são preenchidos com canetas comuns. A espessura do traço determina o tipo de caneta usada. Usa papel 224g/m² e corta em tiras para plastificar.
Em filas de banco, lavando louça e madrugada a dento ela desenha. “Sempre começo pela casinha na árvore, meu desejo de refugio na infância. Se eu estou triste eu desenho chorando. No momento de tristeza vem uma enxurrada de inspiração”.
Depois que a mãe faleceu em 2008, mora apenas com duas irmãs. Usa a psicologia para interpretar seus trabalhos “as pessoas, as casas e as árvores são representações da minha alma”, disse.